
Nos últimos anos, as relações não-monogâmicas, como os trisais, têm ganhado cada vez mais visibilidade. O tema, que desafia os modelos tradicionais de relacionamento, é fonte de curiosidade, preconceito e desinformação. Afinal, o que é um trisal? Essa forma de relacionamento é permitida no Brasil? Quais os desafios que um trisal enfrenta no dia a dia? E, mais importante, como construir uma relação saudável e harmoniosa envolvendo três pessoas? Este texto busca abordar essas questões com profundidade, esclarecendo dúvidas e promovendo uma reflexão sobre amor, ética e diversidade nas relações humanas.
Um trisal é uma relação amorosa ou sexual formada por três pessoas que compartilham uma conexão afetiva e um compromisso mútuo. Diferente de encontros casuais ou esporádicos a três, os trisais se baseiam em valores como respeito, comunicação e confiança. Embora a configuração seja cada vez mais reconhecida socialmente, as relações não-monogâmicas ainda enfrentam uma série de barreiras culturais, emocionais e legais. No Brasil, por exemplo, não existe regulamentação específica que reconheça juridicamente relações poliafetivas. Apesar disso, é importante destacar que trisal não é crime no Brasil. A legislação brasileira não penaliza formalmente as relações envolvendo três ou mais pessoas, mas também não oferece proteção legal para os direitos e deveres dos envolvidos.
A Constituição Federal, em seu artigo 226, define a união estável como um arranjo entre duas pessoas, deixando de fora configurações poliafetivas. Na prática, isso significa que integrantes de um trisal não possuem acesso a benefícios legais que são garantidos a casais monogâmicos, como direitos patrimoniais, pensão, herança ou guarda compartilhada de filhos. Além disso, a ausência de um reconhecimento formal pode gerar dificuldades em situações do dia a dia, como a inclusão de parceiros em visitas hospitalares ou a tomada de decisões conjuntas em momentos críticos. Embora alguns tribunais brasileiros já tenham reconhecido, de forma pontual, os direitos de membros de relações poliafetivas – como a possibilidade de incluir um terceiro parceiro em testamentos ou a luta por direitos de visita –, esses casos ainda são exceções e refletem mais uma interpretação criativa da lei do que um respaldo jurídico consolidado.
Esse vazio legislativo não é exclusivo do Brasil. Em outros países, como Estados Unidos, França e Reino Unido, as relações poliafetivas também enfrentam um cenário legal complexo e ambíguo. Alguns estados americanos, por exemplo, têm implementado legislações que permitem contratos de convivência para proteger aspectos básicos de relações não-monogâmicas, mas isso ainda está longe de garantir igualdade jurídica. Já na Europa, embora a aceitação social das relações não-tradicionais esteja em crescimento, os avanços legais permanecem limitados.
Além dos desafios jurídicos, os trisais também enfrentam barreiras emocionais e sociais que podem impactar profundamente suas dinâmicas. Um dos aspectos mais delicados é a gestão de ciúmes. Em uma relação a três, o equilíbrio emocional pode ser mais complexo do que em relacionamentos monogâmicos, já que é preciso lidar com inseguranças e garantir que todos os membros se sintam valorizados e incluídos. A comparação entre os parceiros, por exemplo, pode ser uma fonte de tensão, especialmente se houver uma percepção de favoritismo ou exclusão. Para evitar que esses sentimentos prejudiquem o relacionamento, é essencial investir em comunicação aberta e promover um ambiente de diálogo constante.
Outro ponto importante em um trisal é a definição de regras e limites claros. Cada pessoa envolvida traz expectativas, valores e necessidades que precisam ser alinhados para que a relação funcione de forma harmônica. As regras podem incluir aspectos como exclusividade emocional ou sexual, organização do tempo para que todos os parceiros se sintam igualmente importantes, e acordos sobre como lidar com situações de conflito. A flexibilidade também é fundamental: ao longo do tempo, as necessidades dos integrantes podem mudar, e o relacionamento deve estar preparado para adaptar suas dinâmicas conforme necessário.
Do ponto de vista psicológico, os trisais podem oferecer benefícios significativos. A diversidade de experiências e perspectivas em uma relação a três pode enriquecer a vida emocional dos envolvidos, promovendo crescimento pessoal e relacional. Além disso, o apoio mútuo entre os parceiros é potencializado, criando uma rede de suporte afetivo que pode ajudar a enfrentar desafios da vida cotidiana. No entanto, esses benefícios só são plenamente alcançados quando a relação é baseada em ética e consentimento informado. Isso significa que todos os envolvidos devem estar plenamente conscientes das expectativas e limitações da relação, garantindo que suas vozes sejam ouvidas e respeitadas.
Socialmente, os trisais ainda enfrentam preconceitos e estigmas, frequentemente associados a ideias equivocadas de promiscuidade ou falta de compromisso. Essas percepções refletem normas culturais que privilegiam a monogamia como modelo ideal de relacionamento, ignorando a diversidade de formas como o amor e o afeto podem ser expressos. No entanto, as novas gerações têm mostrado maior abertura para questionar essas normas tradicionais. Discussões sobre poliamor, relações abertas e outras configurações não-monogâmicas estão ganhando espaço em plataformas públicas e acadêmicas, contribuindo para desmistificar essas dinâmicas e promover maior aceitação.
É importante reconhecer que a escolha por um trisal, ou qualquer outra configuração não-monogâmica, não é para todos. Cada indivíduo ou grupo deve avaliar cuidadosamente se essa forma de relacionamento está alinhada com seus valores, necessidades e limites emocionais. Para aqueles que optam por explorar essa possibilidade, é fundamental investir em autoconhecimento, diálogo e, quando necessário, buscar apoio especializado. A terapia para casais, por exemplo, pode ser uma ferramenta poderosa para ajudar os integrantes de um trisal a enfrentar desafios e construir uma relação sólida e harmoniosa.
Em conclusão, viver em um trisal não é apenas sobre desafiar normas tradicionais, mas sobre criar conexões baseadas em amor, respeito e compromisso. Embora ainda existam desafios legais e sociais significativos, o crescimento pessoal e a profundidade emocional que essa dinâmica pode oferecer tornam essa jornada única e recompensadora. Se você está em um trisal ou considera essa possibilidade, lembre-se de que orientação e apoio podem fazer toda a diferença. Afinal, o amor não precisa se limitar a um único formato – ele pode ser tão diverso quanto as pessoas que o vivenciam.
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Wantuir Rock
Psicólogo CRP 04/432
Sexólogo CRS 160324
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